quarta-feira, setembro 13, 2006

Preservar a Memória

Nos anos 70 e 80, mercê de uma vida trabalho e poupança nos países de acolhimento, aos nossoa emigrantes, para mostrar à sociedade os eu poder económico, mandavam construir grandes "maisons", fazendo gala em cobrir as paredes exteriores (fachadas) com azulejos , uns de cores lisas outros com desenhos ou flores.
Enfim, uma panóplia de mau gosto que nada tinha a haver com a nossa cultura arquitectónica, que desvirtuava a paisagem e que ainda hoje perduram alguns exemplos por este algarve tão mal tratado arquitectónicamente e não só.
Felizmente, e ainda levou alguns anos, os arquitectos e as câmaras municipais a "proibiram" e a desaconselharam que as fachadas dos prédios fossem cobertas de azulejos, conseguindo travar essa construção aberrante e que nada tinha a ver com o branco do nosso casario.
Vem esta introdução a propósito de uma obra que a Câmara Municipal de silves está a realizar na Vila de São Bartolomeu de Messines e que, mesmo ainda não estando concluída, já está a levantar alguma polémica, nesta terra onde todas as obras são polémicas ( Avenida João de deus, Rua 1º de maio, e " Rotunda do Carvalho" .
Mas é melhor passar a explicar:
Há alguns anos ( poucos) o ilustre messinense Doutor António Costa Contreiras doou à Câmara Municipal de Silves um prédio muito antigo, mesmo à entrada da vila, no sítio do Alto Frente.
Esse prédio era originalmente composto por um telhado de uma só "água" encimado por 4 majestosas chaminés tipicamente algarvias. Posteriormente e não se sabe bem quando, foi demolida uma divisão que comportava uma chaminé ficando com um conjunto de três que todos os messinenses conhecem.
A vontade das gentes de Messines para implantar naquele edifício um museu já é muito antida, mas por falta de vontade politíca, ou por outros motivos que agora não interessam nada, só agora e em boa hora - este velho sonho vai poder ser uma realidade, fazendo votos que o Doutor Contreiras ainda consiga assistir à sua inauguração.
Porquer passo várias vezes por dia junto ao edifício, tenho o privilégio de ter " assistido" ao derrube e ao levantar do novo espaço e francamente estava a gostar, comentando nalguns locais públicos que esta obra estava a ficar muito bonita, quase igual à original.
Todos temos direito à indignação, e confesso que fiquei deveras indignado quando vi começarem a colocar azulejos cor de laranja num edifício que se diz ser um Museu Etnográfico e que foi reconstruído respeitando quase todos os promenores da fachada, incluindo as chaminés que ficaram lindas.
Onde está a sensibilidade dos arquitectos do projecto para as questões do património? Quando qualquer cidadão comum tem um projecto duma moradia aprovado, os mesmos técnicos sugerem e indicam que os acabamentos exteriores devem respeitar as cores e os materiais tradicionais da região.
O que tem o cor de laranja 8 cor que não tenho nada contra) com esta terra ruiva, vulgarmente conhecida por charneca que se "veste de grés" desde sempre. E que dizer ( agora que tiraram os tapumes) das portas e janelas, não haveria outros materiais mais apropriados para um futuro Museu Etnográfico? Dentro desta linha de acabamentos será que os solos irão ser de plástico, Ou de ladrilho regional?
São as entidades oficiais e nomeadamente a Câmara Municipal de Silves que devem dar o exemplo na aplicação das normas e das leis perante a opinião pública, porque não basta parecê-lo é preciso sê-lo e neste caso concreto, tratando-se de recuperação de património deveria a Câmara Municipal de Silves ter todo o cuidado a preservar a memória de um edificio tão antigo.

José Carlos Xavier
Autarca e Presidente da Associação Pé de Vento in terra ruiva